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commit
70826edb3f
@ -145,7 +145,7 @@ A disforia sentida sobre o corpo pode e irá mudar com o tempo, para melhor e pa
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### Problemas de Imagem Corpórea Internalizada
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O mundo é cheio de mensagens subconscientes sobre como as formas dos corpos de homens e mulheres devem ser. Nós somos bombardeados por propaganda e mídia criando uma visão normalizada do que é e não é bonito. Não seja muito gordo, não seja muito magro, não seja muito alto, não seja muito baixo, não tenha um queixo muito largo, não tem um nariz muito grande, use maquiagem não use muita maquiagem, não saia de casa sem um sutiã, mas não o deixe ser visto. É incessante a constante enxurrada de expectativas sobre aparência gendrada.
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O mundo é cheio de mensagens subconscientes sobre como as formas dos corpos de homens e mulheres devem ser. Nós somos bombardeados por propaganda e mídia criando uma visão normalizada do que é e não é bonito. Não seja muito gordo, não seja muito magro, não seja muito alto, não seja muito baixo, não tenha um queixo muito largo, não tem um nariz muito grande, use maquiagem não use muita maquiagem, não saia de casa sem um sutiã, mas não o deixe ser visto. É incessante a constante enxurrada de expectativas sobre aparência generizada.
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Todas absorvemos essas mensagens, e pessoas trans internalizam os fatores que importam ao gênero com o qual elas se alinham. Meninas trans crescem aplicando padrões femininos em si mesmas, meninos trans aplicam padrões masculinos em si mesmos e enbies (pessoas não-binárias) frequentemente internalizam vergonha acerca de androgenia. Isso é *em cima* da vergonha que eles recebem por não viverem de acordo com os padrões de seu gênero atribuído ao nascimento.
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@ -29,7 +29,7 @@ tweets:
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Papéis de gênero existem, e por mais que tentemos contrariá-los e apontar o sexismo que neles existe, sempre haverá expectativas colocadas sobre as pessoas por conta de seu gênero. A mais forte dessas é em papéis maritais e parentais. Termos como "marido", "esposa", "mãe", e "pai" vem cheios de bagagem atrelada a eles e o papel errado, ou ainda qualquer papel, pode gerar sensações de restrição tão excessiva quando uma camisa-de-força forrada de chumbo. Você recebe um livro inteiro de comportamentos e ações, gostos e desgostos, que se espera que você cumpra e, se você falhar em cumprir tais requerimentos, você é visto como um mal conjugue ou mal genitor.
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Um pai AFAB que dá à luz pode experienciar severa disforia sobre ser chamado de mãe. A vasta maioria dos recursos sobre dar à luz são *extremamente* genderizados como de mulher. Tanto que o próprio processo de concepção, gravidez e dar à luz é excepcionalmente carregado com expectativas de gênero. E se você está grávido, será rotulado como mãe independentemente de como você se sente sobre o seu papel, e com isso vem muitas presunções. Presunções sobre dar cuidados, amamentar, e criar crianças.
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Um pai AFAB que dá à luz pode experienciar severa disforia sobre ser chamado de mãe. A vasta maioria dos recursos sobre dar à luz são *extremamente* generizados como de mulher. Tanto que o próprio processo de concepção, gravidez e dar à luz é excepcionalmente carregado com expectativas de gênero. E se você está grávido, será rotulado como mãe independentemente de como você se sente sobre o seu papel, e com isso vem muitas presunções. Presunções sobre dar cuidados, amamentar, e criar crianças.
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Indivíduas transfemininas que [passam](https://en.wikipedia.org/wiki/Passing_(gender)) como cisgêneras também experienciam isso. Se você está carregando um bebê ou cuidando de uma criança, você é rotulada de mãe (exceto se a criança for branca e você não, o que te rebaixada à babá, mas isso é outro tópico). Isso pode ser validante, porque isso é um sinal de que você é vista como mulher, mas também pode ser extremamente *invalidante* quando mulheres cis começam a falar sobre as experiências reprodutivas que elas acham serem compartilhadas.
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@ -76,4 +76,4 @@ Além do desconforto, muitas pessoas trans percebem que a dinâmica dos relacion
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Por exemplo, eu mesma percebi, após sair do armário a minha esposa que todas as nossas tentativas anteriores de namoro foram absolutamente sáficas em natureza. Minha primeira prioridade sempre foi ser bons amigos com elas. Encontros nunca eram rotulados de encontros porque nós queríamos simplesmente sentar e conversar, passando o tempo juntos. Consequentemente, vários dos meus relacionamentos simplesmente acabaram porque eu temia demais que fazer o primeiro movimento poderia destruir a amizade. Eu gastaria metade do meu dia pensando sobre elas e querendo estar perto delas, não por luxúria sexual, mas por afeto pessoal. Minha primeira namorada me falou diretamente no nosso primeiro encontro que eu não era como qualquer homem que ela já namorara porque eu gostava de conversar ao invés de apenas tentar tornar as coisas físicas. Ela rompeu comigo dois meses mais tarde porque eu não era tão assertivo quanto ela queria de um parceiro.
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Essas dinâmicas ficam ainda mais complicadas para pessoas não-binárias, algumas das quais podem no máximo descrever o seu estilo de namoro como queer. Algumas tem dificuldade em identificar qual papel elas querem interpretar em um relacionamento. Outras podem tomar um papel específico que é tipicamente visto como binariamente genderizado, mesmo se elas não são menino nem menina. Algumas querem interpretar um papel visto na sociedade como neutro ou consistente de aspectos de ambos os papéis de gêneros binários.
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Essas dinâmicas ficam ainda mais complicadas para pessoas não-binárias, algumas das quais podem no máximo descrever o seu estilo de namoro como queer. Algumas tem dificuldade em identificar qual papel elas querem interpretar em um relacionamento. Outras podem tomar um papel específico que é tipicamente visto como binariamente generizado, mesmo se elas não são menino nem menina. Algumas querem interpretar um papel visto na sociedade como neutro ou consistente de aspectos de ambos os papéis de gêneros binários.
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@ -30,7 +30,7 @@ tweets:
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Antes que eu possa falar sobre desconforto, eu preciso falar sobre alívio. Euforia de Gênero é um sinal de Disforia de Gênero. Você pode estar se perguntando, "como pode a felicidade ser tristeza?" A resposta é simples.
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Imagine uma pessoa que nasceu numa caverna e que gastou sua inteira vida vivendo no subterrâneo, e que sua única fonte de iluminação sendo velas e lâmpadas à óleo. Imagine que ela nunca esteve na superfície, ela nem sabe que a superfície existe. Então, um dia, um desmoronamento ocorre em um túnel lateral e revela uma abertura para a superfície. Luz solar adentra a abertura e de início essa luz é cegante e faz a pessoa correr em medo. Mais tarde ela retorna à abertura e conforme os olhos dela se ajustam eles veem através do buraco e veem um brilhante mundo cheio de cores que ela nem sabia que existiam.
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Imagine uma pessoa que nasceu numa caverna e que gastou sua inteira vida vivendo no subterrâneo, e que sua única fonte de iluminação sendo velas e lâmpadas a óleo. Imagine que ela nunca esteve na superfície, ela nem sabe que a superfície existe. Então, um dia, um desmoronamento ocorre em um túnel lateral e revela uma abertura para a superfície. Luz solar adentra a abertura e de início essa luz é cegante e faz a pessoa correr em medo. Mais tarde ela retorna à abertura e conforme os olhos dela se ajustam eles veem através do buraco e veem um brilhante mundo cheio de cores que ela nem sabia que existiam.
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O mundo é amedrontador, é enorme e cheio do desconhecido, então ela rasteja de volta à caverna por segurança mas o buraco ainda está lá, e ela ainda vê a luz toda vez que passa por ela. Gradualmente ela espia para fora mais e mais frequentemente, mais e mais longe da abertura. Ela começa a querer aquela luz e ela começa a achar razões para visitá-la mais frequentemente.
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@ -44,7 +44,7 @@ Isso é como a Euforia de Gênero é. Ela é como flashes de uma luz que pode pa
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Muitas pessoas trans não tem ideia de quanta dor elas sentem até que elas encontrem pequenos pedaços de alívio. <em lang="en">Cosplay</em>, atuação em teatro, <em lang="en">drag</em>, jogos de interpretação de papéis; pequenas incursões em um gênero diferente daquele no qual elas viveram. Elas podem descobrir que se sentem apenas um pouquinho mais confortáveis. Elas inventarão desculpas para o porquê ("Se eu vou ter que ficar olhando para a bunda de um personagem, melhor que seja a bunda de uma menina." em jogos de perspectiva de terceira pessoa), elas tentarão se convencer que é apenas por diversão, ou uma expressão artística. Elas modem contar a si mesmas que os fragmentos de alegria que elas sentem ao ouvir pronomes distintos é apenas por ser uma novidade. Mas logo elas se encontrão procurando por razões para fazê-lo mais frequentemente. Com frequência cada vez maior, elas interpretam personagens de um sexo diferente, costuram mais fantasias, compram mais roupas, atuando mais frequentemente. Você se encontrará querendo fazer mais disso o tempo inteiro, porque isso simplesmente te faz sentir melhor que a sua vida real, e ser "você" começa a doer. Mais cedo ou mais tarde, o velho você se torna a vestimenta fantasia.
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Isso é a mais fundamental razão pelo qual nós como comunidade dizemos "você não precisa de disforia para ser trans", porque tinta preta no quadro preto simplesmente não é visível sem uma minuciosa inspeção e muita luz.
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Essa é a mais fundamental razão pelo qual nós como comunidade dizemos "você não precisa de disforia para ser trans", porque tinta preta no quadro preto simplesmente não é visível sem uma minuciosa inspeção e muita luz.
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Tudo que pode ser fonte de disforia tem uma igual e oposta euforia.
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@ -53,11 +53,11 @@ Tudo que pode ser fonte de disforia tem uma igual e oposta euforia.
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<strong>gen·drar</strong> - <em>Verbo, neologismo, anglicismo</em><br>
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<strong>ge·ne·ri·zar</strong> - <em>Verbo, neologismo, anglicismo</em><br>
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<p>Perceber como ou tratar com um determinado gênero.</p>
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<summary>Exemplo</summary>
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<p>Ex: “Em uma entrevista, ele até notou que ele 'se vestia, agia e pensava como um homem' por anos, mas seus colegas de trabalho continuavam o <u>gendrando</u> como mulher.” (<a href="https://en.wiktionary.org/wiki/gender#:~:text=In%20an%20interview%2C%20he%20even%20noted%20that%20he%20%22dressed%2C%20acted%20and%20thought%20like%20a%20man%22%20for%20years%2C%20but%20his%20coworkers%20continued%20to%20gender%20him%20as%20female">Ver no Wikcionário</a>)</p>
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<p>Ex: “Em uma entrevista, ele até notou que ele 'se vestia, agia e pensava como um homem' por anos, mas seus colegas de trabalho continuavam o <u>generizando</u> como mulher.” (<a href="https://en.wiktionary.org/wiki/gender#:~:text=In%20an%20interview%2C%20he%20even%20noted%20that%20he%20%22dressed%2C%20acted%20and%20thought%20like%20a%20man%22%20for%20years%2C%20but%20his%20coworkers%20continued%20to%20gender%20him%20as%20female">Ver no Wikcionário</a>)</p>
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@ -70,12 +70,12 @@ Tudo que pode ser fonte de disforia tem uma igual e oposta euforia.
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Exemplos:
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- Ser gendrade corretamente.
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- Ser generizade corretamente.
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- Ter tratade com o seu nome escolhido.
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- Vestir roupas que conferem com o seu gênero.
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- Ser e sentir mudanças em seu corpo.
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- Ver-se no espelho (remoção da despersonalização).
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- Socializar de uma forma que corresponde com as suas expectativas gendradas.
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- Socializar de uma forma que corresponde com as suas expectativas generizadas.
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- Cortar o cabelo de forma masculina/feminina/andrógena.
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- Remover (ou não) os pelos da perna.
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- Ser incluíde em algo que você, do contrário, não poderia por conta seu gênero atribuído ao nascimento (ex: <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Bridal_shower"><em lang="en">bridal shower</em></a> ou despedida de solteiro)
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@ -55,9 +55,9 @@ Pessoas trans estão saindo do armário; nós estamos em todos os lugares.
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Existe um comum equívoco tanto entre pessoas cisgêneras quanto transgêneras que Disforia de Gênero refere-se exclusivamente ao desconforto físico com o próprio corpo. Entretanto, essa crença de que desconforto corpóreo é central a Disforia de Gênero é na verdade um equívoco, e não é nem um componente majoritário do diagnóstico da Disforia de Gênero. A Disforia de Gênero cruza um grande número de aspectos da vida, incluindo como você interage com os outros, como você se veste, como você se comporta, como você se encaixa na sociedade, como você percebe o mundo ao seu redor, e sim, como você se relaciona com o próprio corpo. Consequentemente, proponentes do SoC 7 da WPATH e do DSM-5 tomaram o hábito de dizer que você não precisa de disforia para ser transgênero. Essa afirmação é geralmente repetida como um mantra, pois ele informa as pessoas que não sentem significativo desconforto com o corpo que elas talvez sejam trans também.
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Em princípio, a Disforia de Gênero é uma sensação de algo intrínseca erroneidade com si mesmo. Não há lastro lógico para essa erroneidade, não há nada que a explica, você não consegue descrever o porque você se sente assim, ela simplesmente está lá. Coisas na sua existência estão erradas e mesmo sabendo quais coisas *são* incorretas pode ser difícil identificá-las apropriadamente.
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Em princípio, a Disforia de Gênero é uma sensação de algo intrínseca erroneidade com si mesmo. Não há embasamento lógico para essa erroneidade, não há nada que a explica, você não consegue descrever o porque você se sente assim, ela simplesmente está lá. Coisas na sua existência estão erradas e mesmo sabendo quais coisas *são* incorretas pode ser difícil identificá-las apropriadamente.
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A forma como costumo a descrever é como usar uma luva de adulto quando você é criança. Você pode por a sua mão na luva, e seus dedos podem entrar nos dedos da luva, mas a sua desteridade com a luva é severamente debilitada. Você também pode ser capaz de pegar algo, mas ser incapaz de manipulá-lo como um adulto conseguiria. As coisas simplesmente não estão bem certas.
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A forma como costumo a descrever é como usar uma luva de adulto quando você é criança. Você pode por a sua mão na luva, e seus dedos podem entrar nos dedos da luva, mas a sua dexteridade com a luva é severamente debilitada. Você também pode ser capaz de pegar algo, mas ser incapaz de manipulá-lo como um adulto conseguiria. As coisas simplesmente não estão bem certas.
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<span lang="en">Evey Winters</span> descreve assim [em seu post Disforia](https://eveywinters.com/on-dysphoria-before-enduring-and-after/).
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@ -65,13 +65,13 @@ A forma como costumo a descrever é como usar uma luva de adulto quando você é
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> Ou quando eu era mais jovem e costumava assistir TV à cabo nas manhãs antes da escola. Como era TV à cabo na parte rural da Virgínia Ocidental (estado dos EUA) no começo dos anos 90, de tempos em tempos eu ligava o meu canal favorito e assistiria meus shows enquanto eu comia *maple oatmeal* de café da manhã e assistia Power Rangers — mas o áudio vinha de outra estação (geralmente do canal de tempo meterológico). O vídeo estava okay. O áudio estava okay. Mas o desencontro entre eles? Esse era o tipo de frustração que ficava com você o dia inteiro quando criança.
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> É a sensação de que você tem quando você pede uma refrescante Coca Diet e o garçom responde: “Pode ser Pepsi?”
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> É a sensação de que você tem quando você pede uma refrescante Coca Diet e o garçom responde: “Pode ser ~~Guaraná Jesus~~ Pepsi?”
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> É saber que algo está errado e não ser capaz de fazer coisa nenhuma sobre isso.
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A Disforia de Gênero é, em sua essência, simplesmente as reações emocionais ao cérebro sabendo que algo não encaixa. Essa incongruência é tão profunda dentro dos subsistemas do cérebro que não há óbvia mensagem de qual é o problema. A única forma que temos para identificá-lo é através das emoções que ele dispara. Nosso consciente ou recebe feedbacks positivos (euforia) ou negativos (disforia) de acordo com quão bem o nosso ambiente se alinha à nossa sensação interna de si mesmo. Parte da transição é aprender a reconhecer esses sinais.
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Pessoas cisgêneras também recebem esses sinais, como esses sinais geralmente se alinham com seus ambientes, elas os tomam por garantidos. Entretanto, existiram algumas ocasiões notáveis em que pessoas cisgêneras foram [colocadas em uma situação](https://www.teenvogue.com/story/maisie-williams-arya-stark-game-of-thrones-affected-her-body-image) em que elas experimentaram disforia de gênero. Tentativas de criar crianças cisgêneras [como o sexo oposto](https://www.nytimes.com/2004/05/12/us/david-reimer-38-subject-of-the-john-joan-case.html) (aviso de gatilho: suicídio) sempre caíram em fracasso quando essas crianças, invariavelmente, se declaravam diferentemente.
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Pessoas cisgêneras também recebem esses sinais, como esses sinais geralmente se alinham com seus ambientes, elas os tomam por garantidos. Entretanto, existiram algumas ocasiões notáveis em que pessoas cisgêneras foram [colocadas em uma situação](https://www.teenvogue.com/story/maisie-williams-arya-stark-game-of-thrones-affected-her-body-image) em que elas experimentaram disforia de gênero. Tentativas de criar crianças cisgêneras [como o sexo oposto](https://www.nytimes.com/2004/05/12/us/david-reimer-38-subject-of-the-john-joan-case.html) (alerta de conteúdo: suicídio) sempre caíram em fracasso quando essas crianças, invariavelmente, se declaravam diferentemente.
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Esses impulsos de euforia e disforia, excitação e aversão, eles sempre se manifestam em muitas formas diferentes, algumas óbvias, algumas muito mais sutis. Disforia muda com o tempo também, tomando novas formas conforme o indivíduo move de pre-consciência rumo a entendimento e através da transição. A meta desse livro é desmontar essas manifestações em suas distintas categorias e descrevê-las para que outros possam aprender a reconhecê-las.
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@ -79,6 +79,6 @@ Entretanto, primeiro eu quero destacar algo muito importante, tão importante qu
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**TODA PESSOA TRANS EXPERIMENTA UM CONJUNTO DIFERENTE DE FONTES E INTENSIDADES DE DISFORIA**
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Não há uma única experiência trans, não um conjunto padrão de sensações e desconfortos, *não existe a uma narrativa transgênera verdadeira*.
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Não há uma única experiência trans, não um conjunto padrão de sensações e desconfortos, *não existe a uma verdadeira narrativa transgênera*.
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Ok, com esse aviso fora do caminho, vamos para os pontos cernes.
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@ -84,19 +84,21 @@ siblings:
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Desde que a civilização humana existiu, [houve pessoas](https://en.wikipedia.org/wiki/Transgender_history) cujas experiências internas de gênero não se alinham às características físicas de seus corpos. As [Gala](https://en.wikipedia.org/wiki/Gala_\(priests\)), uma classe de sacerdotes de Império Sumério, existiram há mais de 4'500 anos. As culturas indígenas da América do Norte reconheciam um [terceiro gênero](https://en.wikipedia.org/wiki/Third_gender) bem antes do colonialismo europeu e ainda o reconhecem até hoje. O imperador romano [Elagabalus](https://en.wikipedia.org/wiki/Elagabalus#Marriages,_sexuality_and_gender) (218 DC) insistia em ser referido como Senhora ao invés de Senhor, e até ofereceu uma recompensa para qualquer um que pudesse fazer cirurgia de de reconstrução genital.
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Desde que a civilização humana existiu, [houve pessoas](https://en.wikipedia.org/wiki/Transgender_history) cujas experiências internas de gênero não se alinham às características físicas de seus corpos.
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As [Gala](https://en.wikipedia.org/wiki/Gala_\(priests\)), uma classe de sacerdotes de Império Sumério, existiram há mais de 4.500 anos. As culturas indígenas da América do Norte reconheciam um [terceiro gênero](https://en.wikipedia.org/wiki/Third_gender) bem antes do colonialismo europeu e ainda o reconhecem até hoje.
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Culturas tribais da África reconhecem numerosas identidades de gênero as quais os europeus tentaram apagar. Seres humanos, por longos tempos, viveram com identidades, normas e graus de conformidade a essas normas que diferem da chamada "tradicional" ideia de gênero na cultura ocidental de hoje.
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Apesar disso, porém, o entendimento moderno da experiência transgênero só tem existido há aproximadamente 130 anos. Mesmo a palavra "transgênero" remonta apenas a 1965, quando John Oliven a propôs como uma alternativa mais exata ao termo "transsexual" cunhado por David Cauldwell em 1949, o qual se substituiu o termo alemão "<span lang="de">Transvestitismus</span>" de Magnus Hirschfield de 1910.
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Uma pessoa ser transgênero é ela ter uma identidade de gênero que não corresponde ao que lhe foi presumido que ela tivesse com base na genitália com a qual ela nasceu. Isso significa que a pessoa nascida com um pênis é na verdade uma menina, que a pessoa nascida com uma vulva é na verdade um menino, ou que uma pessoa nascida com qualquer configuração genital pode não se encaixar totalmente em qualquer lado do espectro de gênero e que é não-binária.
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Ser transgênere pode significar que uma pessoa nascida com um pênis é na verdade uma menina, que uma pessoa nascida com uma vulva é na verdade um menino, ou que uma pessoa com qualquer configuração genital pode não se encaixar completamente em qualquer lado do espectro e é não-binárie.
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Uma pessoa trans pode vira reconhecer isso em *qualquer ponto* de sua vida. Algumas crianças identificam isso tão logo são capazes de compreender o conceito das diferenças entre os sexos, outros não sentem nada até o início da puberdade, e outros podem não perceber que qualquer coisa está errado até serem adultos. Muitas pessoas simplesmente nunca foram expostas a ideia de que seu gênero poderia não corresponder ao seu sexo de nascimento, ou como é essa sensação, e portanto simplesmente aceitaram seu destino.
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Ainda mais comum é a percepção de que embora tivessem sentimentos sobre serem infelizes com o gênero que lhes foi designado ao nascer, eles acreditam que isso não é o mesmo que as pessoas transgênero sentem. Alguns sentem que um desejo de ser transgênero e ter a transição disponível é algum tipo de desrespeito às "verdadeiras" pessoas transgênero que sabiam que eram na verdade meninos ou meninas "nascidos no corpo errado". Essas narrativas da experiência transgênero que foram espalhadas pela mídia popular criam uma impressão bem falsa do que significa ser transgênero e qual é a sensação de crescer sendo transgênero.
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Ainda mais comum é a percepção de que embora tivessem sentimentos sobre serem infelizes com o gênero que lhes foi designado ao nascer, eles acreditam que isso não é o mesmo que as pessoas transgêneras sentem. Alguns sentem que um desejo de ser transgênero e ter a transição disponível é algum tipo de desrespeito às "verdadeiras" pessoas transgênero que sabiam que eram na verdade meninos ou meninas "nascidos no corpo errado". Essas narrativas da experiência transgênero que foram espalhadas pela mídia popular criam uma impressão bem falsa do que significa ser transgênero e qual é a sensação de crescer sendo transgênero.
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Essa experiência de descontinuidade entre o eu interno e externo é o que descrevemos como Disforia de Gênero. Toda pessoa trans, independentemente de sua posição dentro ou fora do binário de gênero, experimenta alguma forma de disforia de gênero. Isso é meio que um tópico político nas comunidades trans, já que diferentes grupos tem suas próprias ideias do que Disforia de Gênero é, como ela se manifesta, e o que qualifica alguém para ser trans. Em geral, porém, esse debate é fútil e inútil, já que a definição ao topo desta página já engloba o começo e o fim de como esses termos se misturam.
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Essa experiência de descontinuidade entre o eu interno e externo é o que descrevemos como Disforia de Gênero. Toda pessoa trans, independentemente de sua posição dentro ou fora do binário de gênero, experiencia alguma forma de disforia de gênero. Isso é às vezes meio que um tópico político nas comunidades trans, já que diferentes grupos tem suas próprias ideias do que Disforia de Gênero é, como ela se manifesta, e o que qualifica alguém para ser trans. Então, para não nos perdermos nesse tópico, este site definirá Disforia de Gênero em termos amplos de incongruência com o sexo designado ao nascer. Se você experiencia identidade de gênero de uma forma que não corresponde aquela que lhe foi designada ao nascer, sua alegação (_claim_) à identidade transgênera é valido, não importando como essa incongruência se manifesta em você.
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O propósito deste site é documentar as várias formas em que a Disforia de Gênero pode se manifestar, bem como outros aspectos da transição de gênero para servir de guia aqueles que estão questionando, aqueles que estão começando a sua jornada transgênera, aqueles já em suas trilhas e aqueles que simplesmente querem ser melhores aliados.
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O propósito deste site é documentar as várias formas em que a Disforia de Gênero pode se manifestar, bem como outros aspectos da transição de gênero para servir de guia aqueles que estão questionando, aqueles que estão começando a sua jornada transgênera, aqueles já em suas trilhas e aqueles que simplesmente querem ser melhores aliades.
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@ -29,7 +29,7 @@ tweets:
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Se você traçar a etimologia da palavra a suas raízes latinas, gênero simplesmente significa "tipo".
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Muitas pessoas atribuem o termo ao psicólogo John Money, que propôs usar "gênero" em 1955 para diferenciar o sexo mental do sexo físico. Entretanto, John Money não foi o primeiro a fazê-lo. A antropóloga cultura [Margaret Mead](https://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Mead) usou o termo em 1949 no seu livro "<span lang="en">Male and Female</span>" (em português: *Masculino e Feminino* ou *Homem e Mulher*) para distinguir entre comportamentos e papéis de gênero e sexo biológico. O Jornal Americano de Psicologia ([vol. 63, no. 2, 1950, pp. 312](https://www.jstor.org/stable/1418948)) assim descreve o livro:
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Muitas pessoas atribuem o termo ao psicólogo John Money, que propôs usar "gênero" em 1955 para diferenciar o sexo mental do sexo físico. Entretanto, John Money não foi o primeiro a fazê-lo. A antropóloga cultural [Margaret Mead](https://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Mead) usou o termo em 1949 no seu livro "<span lang="en">Male and Female</span>" (em português: *Masculino e Feminino* ou *Homem e Mulher* ou *Macho e Fêmea*) para distinguir entre comportamentos e papéis de gênero e sexo biológico. O Jornal Americano de Psicologia ([vol. 63, no. 2, 1950, pp. 312](https://www.jstor.org/stable/1418948)) assim descreve o livro:
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> Um livro que dá além de sua premissa; pois ele informa o leitor sobre **"gênero" tanto quando sobre "sexo"**, sobre papéis masculinos e femininos, bem como sobre macho e fêmea e suas funções reprodutivas.
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@ -78,7 +78,7 @@ Gênero, entretanto, é bem mais ... esotérico. Há muitas formas diferentes pe
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O resumo disso é, algumas pessoas são bem macho, outras bem fêmea, algumas pessoas não sentem gênero algum, algumas sentem ambos, algumas estão cravadas no meio, algumas caem nas fronteiras. Algumas pessoas oscilam por todo o espectro de formas imprevisíveis, mudando como o vento. Apenas um indivíduo pode identificar seu próprio gênero, ninguém pode ditá-lo por ele.
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O resumo disso é, algumas pessoas são bem masculinas, outras bem femininas, algumas pessoas não sentem gênero algum, algumas sentem ambos, algumas estão cravadas no meio, algumas caem nas fronteiras. Algumas pessoas oscilam por todo o espectro de formas imprevisíveis, mudando como o vento. Apenas um indivíduo pode identificar seu próprio gênero, ninguém pode ditá-lo por ele.
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Gênero é parte construção social, parte comportamentos aprendidos, e parte processos biológicos que se formam bem cedo na vida.
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@ -96,7 +96,7 @@ Gênero também afeta as expectativas de que o cérebro tem para o ambiente no q
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No lado social, gênero envolve o nosso [habitus](https://en.wikipedia.org/wiki/Habitus_(sociology)): nossa apresentação, nossos maneirismos e comportamentos, como comunicamos, como reagimos, quais são nossas expectativas da vida, e quais papéis que podemos cumprir enquanto andamos pela vida. A autora Susan Stryker descreveu habitus em seu livro [<span lang="en">Transgender History</span>](https://smile.amazon.com/Transgender-History-second-Todays-Revolution/dp/158005689X) (em português: _História Transgênera_):
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> Muito do habitus envolve manipular nossas características sexuais secundárias para comunicar aos outros nosso senso de quem sentimos ser --- seja com o balanço dos quadris, falar com as nossas mãos, ganhar músculos na academia, crescer o cabelo, vestir roupas que enfatizam nosso decote, depilar nossas axilas, permitir restolho de barba visível em nossas faces, ou falar com inflecção crescente ou cadente no fim de nossas frases. Geralmente essas formas de movimento e estilização se tornaram tão internalizadas que pensamos nelas como naturais muito embora --- dados que elas são todas coisas que aprendemos por observação e prática --- elas possam ser melhor entendidas como uma "segunda natureza" culturalmente adquirida.
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> Muito do habitus envolve manipular nossas características sexuais secundárias para comunicar aos outros nosso senso de quem sentimos ser --- seja com o balanço dos quadris, falar com as nossas mãos, ganhar músculos na academia, crescer o cabelo, vestir roupas que enfatizam nosso decote, depilar nossas axilas, permitir restolho de barba visível em nossas faces, ou falar com inflexão crescente ou cadente no fim de nossas frases. Geralmente essas formas de movimento e estilização se tornaram tão internalizadas que pensamos nelas como naturais muito embora --- dados que elas são todas coisas que aprendemos por observação e prática --- elas possam ser melhor entendidas como uma "segunda natureza" culturalmente adquirida.
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De fato, esses são todos fatores culturais; coisas que foram desenvolvidas dentro da população ao longo do tempo. Independentemente de serem essencialmente "inventadas", elas ainda são fortemente generizadas e uma pessoa tende a se conectar com os habitus generizados de seu eu interior, mesmo sem perceber que está fazendo isso. Quando nós somos negados acesso a esses aspectos sociais, isso resulta em desconforto com a nossa posição social na vida.
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@ -31,7 +31,7 @@ No Brasil, adultos podem mudar o nome e o sexo nas certidões de nascimento sem
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### Transição Apresentacional
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Essas são as mudanças de como você se estiliza, sejam suas roupas, seu cabelo ou o uso de maquiagem. A nossa sociedade fortemente genderiza todas essas coisas e mudar a apresentação é tanto reafirmante para si próprio como também manda dicas para as pessoas ao seu redor de como se quer ser chamade.
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Essas são as mudanças de como você se estiliza, sejam suas roupas, seu cabelo ou o uso de maquiagem. A nossa sociedade fortemente generiza todas essas coisas e mudar a apresentação é tanto reafirmante para si próprio como também manda dicas para as pessoas ao seu redor de como se quer ser chamade.
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### Transição Médica
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